Uma alta sem precedentes no preço do níquel está acontecendo e é um sinal de alerta para a produção de carros elétricos. Insumo essencial para a bateria dos EVs, o metal chegou a ser negociado em US$ 101.365 por tonelada às 6h da terça-feira (9) na London Metal Exchange — o dobro da alta histórica anterior de US$ 51.800 em maio de 2007.
O níquel, apesar de as pessoas relacionarem a moedas pequenas, por conta dos filmes que retrataram moedas antigas de dólar em níquel, é na verdade um metal semiprecioso, como o cobre ou titânio. Nessa cotação, o níquel está valendo cerca de dez vezes o mesmo peso em titânio e quatro vezes em cobre.
Em tese, a guerra da Rússia contra a Ucrânia deveria favorecer o processo de adoção de veículos elétricos. Isso porque a Rússia é a maior fornecedora de gás e gasolina da Europa, e a Europa não gosta de depender de um país com a política externa da Rússia. A dependência é a razão porque as sanções não podem ser absolutas, e possivelmente o que levou a Putin a acreditar que a guerra não iria custar caro a seu país.
Acontece que a subida no valor do níquel é consequência direta da guerra entre Rússia e Ucrânia. Terceiro maior produtor de níquel no mundo, a Rússia responde por 13% da capacidade global de mineração, o que provoca o temor de que, rodeada por sanções, não consiga exportar a commodity e, consequentemente, haja escassez. “O receio de interrupção no fornecimento de níquel após o conflito entre Rússia e Ucrânia segue agravando e incitando compras extensas [do produto]”, relata a Rystad Energy, empresa norueguesa especializada em pesquisa energética, em recente comunicado aos clientes.
Nos carros elétricos, o níquel geralmente é utilizado para substituir o cobalto no revestimento das células — o bloco de construção básico no componente. Também utilizado na produção de aço inoxidável, ligas para ímãs e (até) cordas de guitarra, um aumento exorbitante no preço do componente levaria a um crescimento no custo da produção de EVs.
“Uma duplicação dos preços do lítio ou do níquel induziria um aumento de 6% nos custos da bateria”, diz relatório da Agência Internacional de Energia, publicado no meio do ano passado. “Se os preços do lítio e do níquel dobrarem ao mesmo tempo, isso compensaria todas as reduções de custo unitárias associadas à duplicação da capacidade de produção das baterias.”
Isso já se dá na prática com a Rivian, que recentemente aumentou o preço de seus carros em 20% por conta da elevação nas commodities.
Em geral, as empresas de carros elétricos substituem o cobalto por níquel, em geral, porque o custo de mineração é menor. A Tesla, por exemplo, produzirá dois tipos de bateria no futuro em que a diferenciação se dará pelo metal utilizado.
Os modelos de entrada terão materiais produzidos a partir de ferro. Já os carros mais sofisticados virão com as aclamadas células cilíndricas 4680 de próxima geração, abrigando um cátodo rico em níquel.
As sanções econômicas contra a Rússia contribuíram para galopar o custo das matérias-primas. Segundo a Rystad Energy, produtores de cátodos e fabricantes de baterias, cada vez mais, têm enfrentado dificuldades para absorver o aumento de preço nos minerais. Uma das empresas afetadas é a petroquímica alemã Basf, a maior do mundo no segmento.
Como parte de um plano da União Europeia para construir uma cadeia de suprimentos no continente, a Basf planejava começar a produção de matérias-primas na Alemanha. O problema é que, para alavancar o processo, a empresa fechou acordo com o grupo de mineração Norilsk, o que pode ser um enorme gargalo para o avanço na UE para fugir da dependência chinesa nesse segmento.
The World's Largest Nickel Mining Companies https://t.co/mTyBb6BxeC
— zerohedge (@zerohedge) March 8, 2022
Uma alternativa para o níquel na produção de carros elétricos seria a adoção de uma química baseada em LFP (fosfato de ferro-lítio). A BYD já utiliza o componente em sua Blade Battery e obteve bons resultados: as baterias de LFP podem ser carregadas em 100% da capacidade e são menos propensas a fugas térmicas. O único ponto negativo é o mau desempenho em climas mais frios.
Crédito da imagem principal: Basf/Divulgação
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O post Preços do níquel disparam por causa da Rússia e isso é má notícia para os carros elétricos apareceu primeiro em Olhar Digital.